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quarta-feira, 27 de julho de 2011


O velho cão da boemia a um dia de se casar

Blog do Cano



A princípio, Walter teve de se desfazer das bermudas tactel e dos pares de sapatênis. Deixou de lado as camisas estampadas e o brinquinho de argola. Abadás de micaretas passadas não veria mais. O infalível gel fixador deu lugar ao creme para pentear. Isso, no decorrer de, apenas, o primeiro ano de namoro.


Já há algum tempo, ele vinha se preparando para a iminente transfomacão. Teria de jogar para escanteio o compromisso de acompanhar as séries A, B e C do Brasileirão diariamente pela TV. Desde o mês anterior, passara a abrir mão dos campeonatos turco e português. Será preciso se adaptar a dividir o lar, seu tempo e atenções com a esposa. Eventualmente vai assistir à melosa novela das nove com a amada.

A vida é mesmo assim, feita de fases. E é bom ir se acostumando com a ideia de compartilhar com a mulher a direção de seu tão estimado Toyota Corolla. Até então, o leme do possante jamais fora manejado por outrem. Com sua dama, aprendeu a ajeitar a cama e tampar a pasta de dente. Foi pela primeira vez a um restaurante japonês e à cidade histórica de Tiradentes. Das malandras viagens só com amigos, já se acostumara a estar ausente. Logo ele, o líder nato da moçada. O velho cão da boemia está a um dia se casar. Quanto à mais significativa das mudanças, no entanto, seu coração quer relutar. Essa sim, irreversível, mas ele sabe que tem de assimilar. Diz respeito àquilo que o faz se sentir homem. Instinto voraz, algo maior do que ele. A bem da verdade, é muito comum entre os machos manter tal hábito, mesmo depois de casados, enquanto tiverem energia. "Mas não sou como os outros" - insiste o noivo em tentar convencer a si próprio. Na véspera de seu adeus à vida de solteiro, ele decide que faz jus a uma recaída. "Voltarei lá, mas será a última vez" - estabelece. Logo na entrada, reencontra alguns de seus cúmplices. Gente boa, mas sem futuro. Não dizem nada que presta, estão ali à caça de prazer e diversão. Walter se emociona ao imaginar que nunca mais pisará o recinto onde tanto se saciou. Sente uma ponta de inveja quando avista um companheiro, completamente suado e satisfeito, relaxando ao sabor de uma cerveja gelada. Tentando não pensar em mais nada, lá está Walter, enfim, pela derradeira vez, fazendo aquilo de que mais gosta: vestindo a camisa número 6 do time dos solteiros, na pelada de sexta-feira da firma. Titular absoluto da lateral esquerda durante nove anos, ele deixou escorrer uma lágrima assim que ouviu o apito inicial. O time dos casados joga com dois volantes e três homens de armação. Não há lugar para um ala de contenção. Por isso ele decidira, com imenso pesar, pendurar as chuteiras ao fim da peleja. É difícil aceitar, mas a vida é assim, feita de fases.


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Eu e o Mar
Fiquei um dia a pensar,
Entre tantas outras coisas,
Como será a minha primeira visita ao Mar.
Visita ao mar?
Quando será?
Eu me imaginei correndo entre as águas,
O vento a soprar-me o peito,
Mil biquínis em meu redor dançando
E eu deitado naquele imenso leito,
De sal, de verde, sonhando.
Talvez não seja assim,
Talvez seja tudo fantasia.
Mas juro que gostaria
de conhecer o mar algum dia.
                                                                                                                   (Afonso Alves Ferreira)

sábado, 23 de julho de 2011

Sinto-me à vontade, não tanto quanto Raul Pompéia em sua obra “O Ateneu”, para falar um pouco da vida passada no Colégio Estadual, apesar de não haver tanta semelhança entre os dois. Mas, a saudade muitas vezes traz à tona lições de vida nunca esquecidas e a lembrança do trabalho sério e incansável daqueles “mestres” que se não nos ensinaram para aquele tempo, com certeza serviram de bússola para nós nos dias de hoje: Seu Chaves, Seu Nilson, Seu Hérbio, Gabriel, Taninha, Bequinha, Izaías, Celeste, Dona Nini, Dadinho, Dona Lucília, Seu Geraldo Arantes, Júlia Leocádia, Dona Neguinha, “Chico Preto” e outros mais, que a memória não me permite lembrar.

Com certeza, o clímax na escola nunca começa no início da aula, sim na hora do recreio e no Estadual não poderia ser diferente. Seu Durães, o disciplinário, de pé, com os braços cruzados, permanecia inerte. Apenas os olhos vigilantes que quase saindo de órbita, ora rodopiavam, ora ficavam de soslaio. E a meninada descia as escadarias do Estadual às correrias para o “rango”. Ao chegar ao pátio começavam as brincadeiras de roda, os piques e porque não, as brigas (como sempre), os namoricos e a famigerada fila; o que até hoje não acabou nas escolas. Aliás, vamos pegar fila até o fim de nossas vidas, porque a modernidade ainda não inventou outra forma de organização... e continua sendo o primeiro da fila aquele que chega primeiro.

O Gérson, filho de Seu Caldeira, prestava-se a adivinhar qual ônibus acabara de subir o morro da praça do cinema, que ao ouvir o barulho do motor dizia: “Este é o número 5 da Vila Tanque”. E era “batata”! Acertara mais uma vez, e no meio destas contava aquelas piadinhas picantes e/ ou pesadas que só ele mesmo sabia contar com tanta competência.

Bate o sinal. Termina o recreio. Voltamos à sala de aula. O professor faltou (hoje é mais comum...) e a turma quebrou o pau... Quase jogou a sala no chão... De repente, eis que chega Seu Geraldo Arantes, professor de Educação Física, que quase nos matava de tantos exercícios físicos; bola mesmo, “necas”... Os tempos mudam... E por causa da bagunça, nós, da sala 23, tivemos que copiar dez vezes o Hino Nacional Brasileiro. Bendita cópia! Só assim aprendi a cantar o nosso hino de cor.

Em seguida, veio a aula de ciências com “Chico Preto”, com argüição e tudo o mais, inclusive, acredito eu, que tenha sido ele o inventor de “empréstimo de pontos”, para que não ficássemos com nota vermelha. Por incrível que pareça, nesse dia, gozador como ele só, pegou o Chiquinho da Telemig, dançando tango com uma vassoura que acabara de pegar atrás da porta da sala, e não é que o danado do Chico Preto colocou Chiquinho para dançar (e cantar) com a vassoura na frente de todos...!?

Bate o sinal novamente. Este até hoje é o sinal mais esperado pelos alunos. Acabou a aula e a coisa sobrou para mim. O “Boneca”, aquele cabeludo e magricela da “Cidade Alta”,  resolvera  juntar os outros colegas para tirar o meu sapato, uma vez que eu o havia importunado com alguma brincadeira que o mesmo não teria gostado . E lá se foi o meu Vulcabrás pelos corredores da escola, de pé em pé, no meio daquela turba alvoroçada para chegar em casa, até chegar aos primeiros degraus da escada; e eu gritava: “na escada, não! Seu Durães vai pegar...” E eles, nada... Continuaram chutando o pé esquerdo do meu sapato e eu correndo como um saci para não sujar a minha meia branca. Que catástrofe! O sapato foi parar aos pés do professor Vicente Soares, diretor da escola, e dali  direto para sua mesa, à minha espera, quando então recebi mais uma lição: “Se você quer ser respeitado, dê respeito.”              
                                                                                                                                                
Então os anos se passaram. A turma terminou seus estudos e cada um seguiu o seu caminho. O Colégio Estadual continuava de pé, abrindo suas portas para receber outros alunos, até que um dia, o sinal emudeceu, os corredores e as escadarias ficaram desertas, desaparecendo assim o Estadual e junto com ele o Cine Monlevade, a Rádio Cultura, o Bar Para Todos, o Ideal Clube, o “Naite Clube” (União Operário), a Praça do Mercado, o Grêmio, enfim, a vida do centro de Monlevade esvaiu-se. Tudo volta para o seu legítimo dono: A Belgo Mineira. E ninguém fez nada para impedir. Nem eu...

Esta foi a terceira lição...
                                                                                                                                   Afonso Alves Ferreira


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Leão de Chácara: Tempo de Infância

Leão de Chácara: Tempo de Infância: "Quando era menino vivia na rua. Que beleza! (imagino) Brincava de pega-ladrão Brincava de roda e jogo de botão. No barranco, surgiam estra..."

quinta-feira, 21 de julho de 2011


DE VOLTA AO PASSADO



“- Atenção passageiros da linha 151 com destino ao bairro Santa Cruz, preparem-se que o ônibus já está chegando...”- dizia o moleque em tom de gozação àquelas pessoas, que depois de um dia cansativo de trabalho esperavam impaciente o lotação. Lá estava eu, depois de tanto tempo, não para ir para a minha casa, pois já havia mudado para Carneirinhos; e sim, para matar saudade daquele lugar que, antigamente, era conhecido como centro de Monlevade, e hoje, como centro Industrial. Mas, exatamente eu estava indo para a rua Tapajós, onde nasci e vivi os primeiros 21 anos de minha vida.
        Depois de me acomodar numa cadeira ao lado da janela, meu pensamento voou longe, desenhando em minha mente mil imagens remanescentes do passado: as estradinhas feitas no barranco; as peladinhas no campinho, incluindo as brigas com Dimas Bodão e os tapas-canoa que me davam por não saber jogar na linha, acompanhado de uma severa ordem para que eu fosse pegar no gol; as brincadeiras de “soldado-ladrão”  na gameleira e pique-bandeira; o jogo de finca e bolinhas de gude no triângulo – um trevo onde não havia praça; o tobogã que constantemente se instalava na praça da igreja, onde eu brincava em troca de trabalho; os preparativos e os festejos da Semana Santa na Gruta da Igreja, incluindo barraquinhas, calvário, queima do Judas e as procissões que iniciavam na Igreja São José Operário, atravessavam  a ponte de madeira da minha rua, indo para a rua Tocantins, Beira Rio e depois retornavam pela outra ponte de madeira, perto da rodoviária; as idas ao campo de futebol do Jacuí e o retorno pela linha de trem até chegar na Estação; as aulas e as traquinagens no Santana e no Estadual;  


o bar Café Rex, que ficava localizado às margens do rio Piracicaba; o bar do seu Daniel e de seu Simões; as pescarias no Piracicaba, onde hoje só serve para dar banho em minhocas; as matinês no Cine Monlevade; os programas de auditório da Rádio Cultura, onde cantei em público pela primeira vez; os bailes carnavalescos do Ideal Clube e os carnavais de rua; os desfiles de 7 de setembro com parada militar e tudo; a assistência médica, onde a Dra. Déa me atendia carinhosamente; o Grêmio, onde eu só entrava às escondidas, principalmente, quando havia festivais de música, como o inesquecível Festiaço; a praça do mercado com o armazém e os burros do Geo, mercearia Bandeirantes, Casa Jaime e Maluf, a loja do "Zé Gordo" e do Nova Lima, Sô Juquinha, O Empório Monlevade, a farmácia do Juventino Caldeira e, principalmente a feira em frente à delegacia de polícia, onde a figura folclórica do Seu Enéas fazia-se sempre presente, tocando aquela flauta cunhada num pedaço de bambu como que se quisesse atrair os fregueses para a feira; os recreios noturnos no “Bar Para Todos”; etc., enfim, as lembranças de um povo sofrido, simples e trabalhador que ajudou a fazer da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira o que hoje ela é: a Arcelor Mital. E olhando aquelas pessoas que estavam retornando para suas casas, lembrava-me do percurso que eu também fazia quando lá morava... 
Então, desperta-me das lembranças o barulho do trem por cima do viaduto, avisando-me que eu estava chegando ao meu destino ou quem sabe, como se quisesse despertar-me das lembranças do passado...  mas o efeito foi contrário: Antigamente não havia aquele viaduto e, sim, uma guarita, onde atravessava para buscar leite e mingau no “Lactário”, para ir às praças do mercado e do cinema...  e  não vi o outro viaduto, aquele que representava o arco do triunfo, a passagem para o berço da história cultural, comercial e industrial de nossa cidade; hoje transformado em uma grande muralha, fechando assim, a porta do passado, guardando as minhas relíquias e de toda a juventude daqueles áureos tempos, que se transformaram em histórias sem imagens para os meus filhos...



        Ao descer o morro do “Rampa´s”, notei que os prédios do Cassino e  Hotel Siderúrgica já não eram como antes...  mais pareciam essas casas mal-assombradas de filmes de terror, com teias de aranhas e poeira para todo lado. A minha memória leva-me à frente deste hotel, onde eu ficava engraxando os sapatos dos hóspedes e cantando: “ Olha o lustro carioca que não mancha e nem reboca...”. Em seguida, lá estava o Hotel Monlevade, que depois de muito tempo fechado, só serviu para abrigar o Sindicato, posto de saúde, barbearia, etc. ...
        Desci no ponto da Igreja e a primeira visão me fez delirar: a matriz São José Operário, com meio século de vida... e penso que pelo menos alguma coisa não havia mudado de 30 anos para cá...  E a segunda  estarreceu-me, pois sob o céu acinzentado lá estava o dragão a soltar fogo e fumaça pelas ventas, que se agigantou em nome do progresso e ao mesmo tempo, em nome desse mesmo progresso, reduziu a necessidade de mão de obra. Então começo a experimentar aquele sentimento, aquela sensação de perda, de uma vazio tão grande, o que foi acrescentado pela lembrança da casa dos Ferreira: a minha casa. Lembrei-me da luta travada de meu pai para transformar aquela casa de três quartos em sete para abrigar a família de 15 filhos, que já não eram mais crianças em 69... Mas que depois, com a sua mudança para a morada do pai celestial, nossa casa serviu apenas para guardar as boas recordações que já haviam perdido o seu valor sem a presença de seu construtor...  É difícil saber se vale a pena construir uma casa para mais tarde ser povoada por fantasmas...
        Enfim, comecei a rever a vizinhança: D. Sinhá de Sô Dário, Seu Oswaldo de D. Maria, Seu Benedito, D. Lilita de Seu João Carneiro, D. Geni de João Tôrres, D. Quinita, Dona Edite, "Bengala", Dona Lilia de Seu Etelvino, Seu Pedrinho, D. Maria de Seu Adão, D. Mariinha, Seu "Zé Pinheiro", Seu Antônio de “Donieta”, Dona Geni de seu Mulatinho, Dona Sussuca, Seu Baldêz, Seu Geraldo Biscoitinho e outros mais. Não sei dizer se estavam todos bem, pois muitos destes já se foram para a eternidade; outros mudaram para outros lugares e por receio de descobrir que poucos permaneciam morando lá, não bati na porta de ninguém. Preferi guardar na lembrança a imagem de todos do jeito que eram, pois vivíamos todos como se fôssemos uma só  família, quando até mesmo não se construía muros para separar uma casa da outra e vizinho era o parente mais próximo...
        Então peguei o ônibus e retornei a Carneirinhos com a certeza de que esta minha viagem ao passado me havia feito valorizar mais o presente, pois no futuro o presente poderá ser um passado tão inesquecível quanto este que acabo de remontar.
(Afonso Alves Ferreira)